Esse texto nos direciona a
pensar que o resumo da vida é a vaidade. Ou seja, tudo que conhecemos e fazemos
se resulta na qualidade do que é
vão, vazio, firmado sobre aparência ilusória, a futilidade.
Tudo, absolutamente tudo, que aspiramos, executamos e nos empenhamos é
fútil. Nossa correria com estudo, nossa dedicação no trabalho, nossas ações e
atitudes. Andamos desatentos e envolvidos pela sedução da futilidade, do vazio
e do nada. Aquilo que achamos importante e ou urgente, na verdade em grande
parte nem secundário se encaixa. Nossa visão de felicidade é pequena e egoísta.
Somos facilmente seduzidos pela futilidade.
A futilidade nos torna incapaz de fazer boas escolhas. Incompetentes de
análise crítica, e de observar o que mais importa nessa vida. A vaidade é o
reflexo da futilidade. Assim somos e escolhemos viver, pois é confortável que
seja assim. Viver acima da futilidade e da mediocridade dá trabalho, traz
responsabilidade ao usar bem a consciência e sabedoria que ao pedirmos a Deus,
temos. Isso faz com que o individuo pense, se pensar será necessário tratar,
pois pensar dói. O ser humano não gosta da dor, da realidade, de encarar de
fato, os fatos.
Encarar os fatos, observar ao redor, verificar o que é a vida. Passageira,
frágil, mas bonita nos seus mínimos detalhes, faz com que tenhamos sentido a
essa existência.
Ficar internado em um hospital, sendo preparado para mesa cirúrgica, sem
duvidas foi até hoje, a maior experiência que já vivi. E vivo, hoje estou, pra
relatar, que somente quando nos aproximamos da morte é que entendemos a
futilidade e ao mesmo tempo o valor da vida. Observar nossa limitação, nos
torna ilimitado. Não há limites!
Limitamo-nos todos os dias de sorrir, de reverenciar a vida, de executar
algo bom, de tentar um projeto ousado, de falar, viver e fazer. Quando entendemos
que a vida passa numa sucção do que antes foi sopro. Sopro de Deus. Algum sentido
deve haver pra nossa existência.
Hoje a pergunta que faço ao ver um jovem da minha idade morrer pelo
mesmo mal que ali fui me tratar, ao ver o cuidado no sustento em todos os
detalhes, na rapidez do diagnostico de câncer e em apenas dois meses passar por
uma intervenção cirúrgica, pelo fato de ter recebido o melhor atendimento
médico que um ser humano poderia ter, observando o atual cenário politico e econômico
do país, em ver Deus no controle de absolutamente tudo, pergunto: Por que o
Senhor me livrou da morte? Sim, porque geralmente questionamos e o culpamos
quando Ele leva....logo gritamos, choramos, nos revoltamos. Alguns morrem com
aqueles pelo qual vivem o luto. Pra muitos a morte chegou antes da morte de
fato chegar. O grito da mãe do jovem que vi seu corpo passar pelos corredores
do hospital era: “por que Deus? Porque não eu? Levava a mim!!” angustia e
pavor. Mas cito isso, pois considero interessante que não fazemos com a mesma
intensidade: “por que Deus eu voltei? Por que não foi ele quem voltou? Levava a
mim!”. Até mesmo nossa gratidão é fútil.
Interessante de tudo isso é que eu sabia que ia sobreviver. Não tive angustia
pela morte em nenhum momento pré-operatório. Nem mesmo no dia em que descobri a
doença. O sentimento era nítido que não vinha para a morte. Mas me angustiei demais,
muito mesmo e até hoje após duas semanas da minha cirurgia....que foi muito
complicada, a expectativa era de duas horas e levaram cinco horas e meia pra
retirar um tumor juntamente com um pedaço do meu intestino, pois estava maior
do que esperado... a angústia que senti era exatamente essa pergunta: porque eu
vou voltar desta mesa cirúrgica? Na minha trajetória decepcionei muitos, fiz
escolhas erradas, me frustrei e muito pequei, nem mesmo ministério mais,
almejei. Voltar pra quê? Pra ter uma vida fútil pensando no meu próprio umbigo?
Para apenas ser um pai e marido melhor, como muitos dizem que é pra que serve
esta experiência. Para apenas ser alertado de que precisamos sempre redobrar a
atenção com o que comemos, vivemos e saúde? Ora, mas isso serviria para o jovem
que se foi também. Ou será que Deus tem filhos prediletos? Ou será que Ele faz
acepção de pessoas?
Não amigos, entendi que a vida é restritamente individual. E recebemos
uma senha para chamada eterna. Estamos numa fila onde o desejo é sempre ser o
ultimo. Mas não tem jeito, um dia iremos. Porém nossa passagem aqui é para que
sejamos embaixadores do evangelho, vivenciarmos o amor no mais alto escalão,
aproveitar a vida não apenas pra si e para os seus, mas para todos, ser útil ao
invés de fútil, viver a essência do evangelho que é fazer com que nossa
passagem seja absurdamente relevante a ponto de deixarmos legados e vivermos
mesmo que uma mesa cirúrgica nos leve.
Que tudo que é fútil, ou seja, viver. Se torne mais útil e menos “eu”.
Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o
conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra
nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma. Eclesiastes 9:10
Agradeço a Deus por eu ter voltado, e pergunto indignado, pois digno não
sou, Por que e Para que voltei... Usa-me, por favor e dê sentido a tudo isso!
Quero chegar lá na frente e poder olhar pra traz e dizer: aquela não foi
minha hora, pois ao olhar pra mim mesmo neste momento, não apenas me tornei um
ser humano melhor, e não apenas valorizei cada segundo a mim destinado, mas
amei e ajudei a outros a se tornarem melhores.
Ainda não acabou!
Anderson Barros, um
sobrevivente.
ÉS O DONO DOS MEUS DIAS