A ninguém devais coisa alguma, a não ser
o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a
lei. Romanos 13:8
Amar é uma obrigação,
um dever, uma divida. Agora me diga como? Cada vez vemos tudo ao oposto do
amor. O mundo a nossa volta parece que conspira contra, matando pensamentos e
posturas bonitas em nós. Não conseguimos amar, não queremos amar. E a visão que
às vezes se fortifica em nós, que nem mesmo Deus quer enviar peixe pra enviar ninguém
a essa posição, por tanta iniqüidade e maldade que se multiplica de forma
assustadora. Andamos como se um pitbull estivesse à solta, e de fato está. Mas,
e nós? Estamos afetados? Ou estamos como numa plataforma, imunes a tudo e
apenas perplexos por não conseguirmos modificar a realidade?
José
Saramago escreveu em 1996 uma obra de arte premiada chamada: “Ensaio sobre a
cegueira”. Onde conta a história de uma repentina cegueira que toma conta de
toda uma cidade, uma vez tomados de forma epidêmica e sem uma explicação cientifica,
todos vão sendo isolados e internados em um manicômio abandonado, porém, a
única pessoa que não contraiu a cegueira é a mulher do médico, que esconde esse
fato dos demais, exceto do marido. Nesse cenário passam por diversas situações
consideradas subumanas, vivendo como bichos, em que o instinto se sobrepõe à
razão e à dignidade humana. Após um certo tempo, estes cegos cidadãos, já
vivendo fora do manicômio, enfrentam a carência da cidade grande que fora
saqueada, assim os moradores que tiveram suas casas saqueadas foram obrigados a
viver como nômades, à procura de alimentos, água e abrigos pelas ruas. Assim como
a cegueira chegou repentinamente, aos poucos se foi.
É
ensaio pois a cegueira não é definitiva, mas imagino o sentimento mutuo conseqüente
a volta da visão: o que fomos capazes de fazer? Pior, o que somos capazes de
fazer? Só porque não tínhamos as respostas para o mal, nos desesperamos!
Percebo que isso não
é ficção, estamos ensaiando uma certa cegueira, mas nos sentimos como a filha
do médico. Compreendo diante disso que nossa divida começa com nós mesmos.
Aquele que não se ama não tem como amar o próximo, pois o contrário não haverá
saldo suficiente para pagar tal dívida. Não há nada de bom o suficiente em nós
para que consideremos o outro não digno do nosso amor. Amar a si mesmo é se
colocar na mesma condição do seu próximo. Trata-se de uma dívida cara, que só
conseguimos quitar através de suaves prestações diárias. Mas é necessário pagar,
pois é a lei.
Não fiquemos escravos
de ninguém, não venhamos acumular dividas ao qual Deus não nos obrigou. Livremos-nos
de todo e qualquer embaraço. Peça ajuda a Deus. Porém nos endividemos de amor
próprio, observando o que pode nos fazer bem. Tudo que for para o bem faça,
produza, respire, inspire, incentive, inicie. Se amando, amarás ao outro sem
culpa alguma. Não se amando, tudo continuará feio.
Considerando que quem
não se ama, não tem nem como amar a Deus, essa então é a maior das nossas
dívidas.