quinta-feira, 14 de julho de 2016

SEDUZIDO PELA FUTILIDADE - UM SOBREVIVENTE



Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.
Eclesiastes 1:2

Esse texto nos direciona a pensar que o resumo da vida é a vaidade. Ou seja, tudo que conhecemos e fazemos se resulta na qualidade do que é vão, vazio, firmado sobre aparência ilusória, a futilidade.

Tudo, absolutamente tudo, que aspiramos, executamos e nos empenhamos é fútil. Nossa correria com estudo, nossa dedicação no trabalho, nossas ações e atitudes. Andamos desatentos e envolvidos pela sedução da futilidade, do vazio e do nada. Aquilo que achamos importante e ou urgente, na verdade em grande parte nem secundário se encaixa. Nossa visão de felicidade é pequena e egoísta. Somos facilmente seduzidos pela futilidade.

A futilidade nos torna incapaz de fazer boas escolhas. Incompetentes de análise crítica, e de observar o que mais importa nessa vida. A vaidade é o reflexo da futilidade. Assim somos e escolhemos viver, pois é confortável que seja assim. Viver acima da futilidade e da mediocridade dá trabalho, traz responsabilidade ao usar bem a consciência e sabedoria que ao pedirmos a Deus, temos. Isso faz com que o individuo pense, se pensar será necessário tratar, pois pensar dói. O ser humano não gosta da dor, da realidade, de encarar de fato, os fatos.

Encarar os fatos, observar ao redor, verificar o que é a vida. Passageira, frágil, mas bonita nos seus mínimos detalhes, faz com que tenhamos sentido a essa existência.
Ficar internado em um hospital, sendo preparado para mesa cirúrgica, sem duvidas foi até hoje, a maior experiência que já vivi. E vivo, hoje estou, pra relatar, que somente quando nos aproximamos da morte é que entendemos a futilidade e ao mesmo tempo o valor da vida. Observar nossa limitação, nos torna ilimitado. Não há limites!
Limitamo-nos todos os dias de sorrir, de reverenciar a vida, de executar algo bom, de tentar um projeto ousado, de falar, viver e fazer. Quando entendemos que a vida passa numa sucção do que antes foi sopro. Sopro de Deus. Algum sentido deve haver pra nossa existência.

Hoje a pergunta que faço ao ver um jovem da minha idade morrer pelo mesmo mal que ali fui me tratar, ao ver o cuidado no sustento em todos os detalhes, na rapidez do diagnostico de câncer e em apenas dois meses passar por uma intervenção cirúrgica, pelo fato de ter recebido o melhor atendimento médico que um ser humano poderia ter, observando o atual cenário politico e econômico do país, em ver Deus no controle de absolutamente tudo, pergunto: Por que o Senhor me livrou da morte? Sim, porque geralmente questionamos e o culpamos quando Ele leva....logo gritamos, choramos, nos revoltamos. Alguns morrem com aqueles pelo qual vivem o luto. Pra muitos a morte chegou antes da morte de fato chegar. O grito da mãe do jovem que vi seu corpo passar pelos corredores do hospital era: “por que Deus? Porque não eu? Levava a mim!!” angustia e pavor. Mas cito isso, pois considero interessante que não fazemos com a mesma intensidade: “por que Deus eu voltei? Por que não foi ele quem voltou? Levava a mim!”.  Até mesmo nossa gratidão é fútil. Interessante de tudo isso é que eu sabia que ia sobreviver. Não tive angustia pela morte em nenhum momento pré-operatório. Nem mesmo no dia em que descobri a doença. O sentimento era nítido que não vinha para a morte. Mas me angustiei demais, muito mesmo e até hoje após duas semanas da minha cirurgia....que foi muito complicada, a expectativa era de duas horas e levaram cinco horas e meia pra retirar um tumor juntamente com um pedaço do meu intestino, pois estava maior do que esperado... a angústia que senti era exatamente essa pergunta: porque eu vou voltar desta mesa cirúrgica? Na minha trajetória decepcionei muitos, fiz escolhas erradas, me frustrei e muito pequei, nem mesmo ministério mais, almejei. Voltar pra quê? Pra ter uma vida fútil pensando no meu próprio umbigo? Para apenas ser um pai e marido melhor, como muitos dizem que é pra que serve esta experiência. Para apenas ser alertado de que precisamos sempre redobrar a atenção com o que comemos, vivemos e saúde? Ora, mas isso serviria para o jovem que se foi também. Ou será que Deus tem filhos prediletos? Ou será que Ele faz acepção de pessoas?

Não amigos, entendi que a vida é restritamente individual. E recebemos uma senha para chamada eterna. Estamos numa fila onde o desejo é sempre ser o ultimo. Mas não tem jeito, um dia iremos. Porém nossa passagem aqui é para que sejamos embaixadores do evangelho, vivenciarmos o amor no mais alto escalão, aproveitar a vida não apenas pra si e para os seus, mas para todos, ser útil ao invés de fútil, viver a essência do evangelho que é fazer com que nossa passagem seja absurdamente relevante a ponto de deixarmos legados e vivermos mesmo que uma mesa cirúrgica nos leve.
Que tudo que é fútil, ou seja, viver. Se torne mais útil e menos “eu”.

Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma. Eclesiastes 9:10

Agradeço a Deus por eu ter voltado, e pergunto indignado, pois digno não sou, Por que e Para que voltei... Usa-me, por favor e dê sentido a tudo isso!

Quero chegar lá na frente e poder olhar pra traz e dizer: aquela não foi minha hora, pois ao olhar pra mim mesmo neste momento, não apenas me tornei um ser humano melhor, e não apenas valorizei cada segundo a mim destinado, mas amei e ajudei a outros a se tornarem melhores.

Ainda não acabou!

Anderson Barros, um sobrevivente.

ÉS O DONO DOS MEUS DIAS